domingo, 29 de abril de 2012

Os Vingadores

Ontem à tarde, fui ao cinema. Levei meu filho para ver “Os Vingadores”, filme da Marvel.

Já ouço, daqui, alguns dizendo: “- Baah! Outro filme sobre heróis e vilões! Tô fora!”

Lamento dizer, mas vocês estão certos. É, de fato, mais um filme de heróis contra vilões.



O nome “Vingadores” nunca me agradou, desde a época em que os via em quadrinhos, na minha adolescência.  Eu não gosto de quem se vinga. Gosto de quem faz justiça, o que é bem diferente.

O próprio George Lucas (renomado diretor) até a véspera do lançamento do que seria o 6º e último capítulo da saga Star Wars, manteve o nome do filme como “A Vingança do Jedi. Porém, sujeito brilhante que é, percebeu em tempo que esse título depunha contra tudo que ele pregava desde o início da saga. Vingança não era um sentimento apropriado para um Jedi. Os Jedi são nobres cavaleiros, guardiões da paz e da justiça nas galáxias. Assim, o filme passou a se chamar, como todos conhecemos, “O retorno de Jedi”.



Voltando ao tema “Os Vingadores”, não vou contar o filme (isso não se faz), mas esse título parece se encaixar perfeitamente aqui, já que nossos heróis vão precisar vingar nosso planeta de uma ameaça alienígena.

Não se engane, porque os chavões estão todos lá, o maniqueísmo também e a forte influência do imperialismo norte-americano continua, por assim dizer, a “imperar”. Não por acaso, o líder dos Vingadores é justamente o Capitão América (Chris Evans), o super soldado criado em laboratório que veste a própria bandeira americana no corpo e representa todo patriotismo e orgulho deles.



Em seguida, temos o Homem de Ferro, vivido magistralmente pelo professor Robert Downey Jr.. Professor porque, enquanto atua, Downey Jr. dá aula de interpretação a todos os outros. Ele é leve, diverte-se com o personagem. Tony Stark continua sagaz, afiado, irreverente e, sobretudo, competente, como nos dois primeiros filmes da franquia Homem de Ferro.



Daí, vem o Thor (Chris Hemsworth), aquela figura mítica, o deus nórdico que faz as mulheres suspirarem e encherem a boca de pipoca. Thor volta à Terra, depois de seu filme solo, atrás do irmão Loki (Tom Hiddleston), que todos acreditavam estar morto. Mas que, muito vivo, se torna um vilão mais sádico e perverso.



Outro ponto alto do filme é a aparição do Incrível Hulk. Depois de dois longas de pouco sucesso e repercussão, o gigante verde reaparece para se juntar aos Vingadores, vivido pelo ótimo Mark Ruffalo. Ruffalo faz, com maestria, o pacato dr. Bruce Banner que, em gestos contidos e tímidos, muito me lembrou o mesmo dr. Banner vivido por Bill Bixby (ator já falecido) na antiga série de TV.

Banner, o filme inteiro, parece querer se desculpar por existir. Tem vergonha de ser quem é. Vive pelo mundo a se esconder. Mas, na verdade, sua fuga desesperada é para se esconder de si mesmo. Ele evita, ao máximo, dar lugar à criatura insana que vive nele. Ele é, ou não, um pouco como eu e você?

De início, todos evitam irritá-lo. Querem dele, apenas, a colaboração do brilhante cientista, especialista em raios gama. Mas logo vão descobrir que, bem canalizada (ou não) a fúria da besta esverdeada será um dos maiores trunfos do time.



Menos interessantes, mas não menos importantes, temos a Viúva Negra (vivida pela estonteante Scarlett Johansson), uma ex-espiã russa que luta e atira como poucos; o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), exímio lançador de flechas; e o responsável por recrutar toda essa turma, o agente Nick Fury (vivido pelo sempre excelente Samuel L. Jackson). L. Jackson nem precisa fazer muito. Basta estar lá... e o filme já ganha muito em credibilidade.



Promessa de muita ação, explosões, efeitos especiais incríveis e boas pitadas de humor. É cinema pipoca, sim. Mas vale cada centavo do ingresso.

Por 2 horas e 22 minutos (tempo aproximado do filme) você esquece um pouco do mundo lá fora: o IPVA, a conta de luz, a declaração do imposto de renda... e se rende ao mundo da fantasia. Vira criança de novo ou, como o Hulk, libera aquilo que existe dentro de você, mas que socialmente não é mais aceito/permitido.



Saímos do filme nos sentindo vingados. Vingados de uma semana de trabalho, faculdade, condução lotada... seja lá qual forem as suas lutas.

Eu sei, esse sentimento passa logo. Para mim, dura 15 minutos. Para meu filho, de seis anos, dura uns 15 dias. Então, aproveitemos enquanto ele dura. Sonhemos, enquanto pudermos, que estamos protegidos da maldade do mundo  pelo martelo do Thor, pelo escudo do Capitão América e pela força do Hulk. E rir, na cara do perigo, das mazelas da vida, das enfermidades que nos acometem, da tristeza que sentimos, como faz Stark, o Homem de Ferro.






Robson Cassimiro

29/04/2012


quinta-feira, 8 de março de 2012

CINCO ANOS SEM VOCÊ


E aí, Marcelo?
Como vão as coisas?
Hoje faz 5 anos que eu não te vejo.
O tempo voa, né, cara?
O que você conta de bom?
Saudades tuas, sabia?
Você era um dos canais a me ligar aos melhores momentos da
minha juventude, da minha infância, do meu passado. Você sempre me lembrava uma
história da qual eu já havia esquecido. E a gente ria, ria tudo de novo. Ria do
riso que demos naqueles dias.

As coisas, por aqui, pouco mudaram. Cinco anos não é tanto
tempo assim!
Nilópolis continua cheia de gente. E as ruas, cheias de
lixo.
A beija-flor sempre faz bonitos carnavais, mesmo quando não
ganha.
Nosso Flamengo... ainda daquele jeito: meio barro, meio
tijolo... mas a gente continua torcendo.
Moisés continua por aí, com sua hirsuta barba branca,
aproveitando bitucas de cigarros que encontra pelo chão e falando sobre seu pé
de abacate-manteiga, com o qual ainda jura dialogar. Continua maluquinho, do
mesmo jeito!
Lembra quando ele ficava deitado numa laje, quarando ao sol
do meio-dia? Da janela do CNEC nós mexíamos com ele. E ele, com um gesto brusco,
mandava-nos nos ferrar. Nós ríamos tanto disso! Era engraçado, né? Eu só não
imaginava que isso fosse ficar tão fortemente impresso em meu coração. Todas as
vezes em que cruzo com ele, nas ruas, eu me lembro de você. E me dá vontade de
rir tudo de novo.
A gente não escolhe o que vai marcar nosso coração pelo
resto da vida. As coisas, simplesmente, acontecem. E até um lunático pode ser a
nossa ponte para um passado de muita felicidade.

A tua mãe continua o mesmo doce de sempre, mas muito triste
sem você. Essa chaga, que é a tua ausência, nunca se fechou nela. E não vai
fechar. Perder um filho subverte toda a ordem daquilo que consideramos normal e
aceitável.
Eu a vejo na igreja, aos domingos, durinha, parada, de
terninho e saia azuis. Você está em todos os ângulos do olhar dela. Você está
sempre lá.

Tua tia ainda trabalha na mesma farmácia, no centro da
cidade. Ela, às vezes, sai para trabalhar junto comigo. Continua falando pouco
e andando devagar. Quando estou atrasado, finjo que não a vejo, passo direto
por ela, para não me atrasar mais. (risos)

Teu irmão tá legal. Não há mais nada nele que lembre aquele
menino bobo, de boca sempre aberta, que ficava fazendo pipas e rabiolas,
sentado no chão, de pernas abertas, no fundo da varanda. Ele se tornou um homem
bonito (mais bonito que nós dois juntos), trabalha como representante farmacêutico
e está noivo de uma moça linda e gentil. Dia desses, fomos ao cinema juntos:
ele com a noiva, eu com a Letícia.
Não consigo olhar para ele sem ver um pouco de você. Mas não
toco nesse assunto. Ele não gosta de falar de você. Ainda dói muito. E dói em
mim também. Então, a gente não fala. A gente só sente. E essa dor, reprimida,
censurada, fica como um buraco no meio do peito da gente. Um buraco que a gente
vive pulando para não cair nele. Da mesma forma que se pula um buraco no meio
da rua.

Para quem ficou aqui, Marcelo, a vida continua a mesma luta
diária. A cada dia, colocamos um tijolinho no muro, na construção da nossa
felicidade. Às vezes, vem um vento e derruba tudo. Então, a gente começa tudo
de novo, tijolo após tijolo.
Enquanto há vida, você sabe, há esperança.

Meu filho está uma graça! Você, que o viu tão pequenino, não
acreditaria no tamanho que ele tem agora. Em julho, faz 7 anos. É muito esperto
e peralta. Bonito como a Letícia e tagarela como eu. Ainda bem que não foi o
contrário, né? Senão, teríamos um menino feio e caladão. (risos)

Juntamente com a alegria de ver um filho crescer, mistura-se
a mágoa secreta de envelhecer. De ver o tempo passar. Ele não para, e vai nos
levando tantas coisas...
Leva nossa juventude, leva nossa inocência de antes, leva
nossas crenças, leva nossos doces sorrisos e leva amigos como você. Você não
sabe como é perder um amigo como você. Ou sabe?

Olho-me no espelho, pela manhã, e meu rosto está caído. Meus
cabelos ralos. Em meus braços, aquelas pintinhas vermelhas, características de
uma pele que vai envelhecendo. Minha barriga aparecendo. Meus olhos caídos, meus ombros caídos... nem
quero falar do resto! (risos)
Agora, uso óculos, tenho pressão alta, evito cafeína.
Não tenho mais a energia daqueles dias. Estou ficando velho,
amigo.
Aquele Robson, lentamente, vai dando lugar a outro.

Já são 5 anos. Mais um ano, serão 6.
E a vida segue aqui.
A cada ano, você se distancia mais.
Tenho novos bons amigos agora, mas para um amigo como
você... não há substituto.
Um amigo não substitui o outro, ele se soma aos que já
existiam antes.
A tua imagem permanece intacta, límpida.
E a nossa amizade, viva, muito viva.

Esta carta, meu amigo, cumpre dois importantes papéis: o
primeiro, de ser desabafo. O segundo, de ser homenagem.
Suporte meu desabafo, aceite minha homenagem e não se
importe com essas minhas lágrimas.

Aceite esta vigília, aceite esta luz amarela de abajur que
ilumina esta folha, que ilumina estas minhas linhas. Aceite este silêncio da
madrugada, enquanto todos os homens do mundo quedam adormecidos. Este doce silêncio
de criança que dorme.
O meu quarto, esta noite, é como um farol, um candeeiro, uma
centelha de luz na imensidão da noite escura, da névoa densa. É a prova de uma
consciência desperta.
Essa escuridão é o tempo passado, são esses 5 anos sem você.
A centelha, essa luz que resiste à treva densa do tempo, é a
nossa amizade, Marcelo, que nunca há de se apagar.


Robson Cassimiro
09/03/2012

*Este texto é dedicado ao querido e inesquecível amigo,
Marcelo Sabino Fernandes.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Na estação



E cá estou eu, na estação
Na mesma estação de sempre
Esperando por você
Esperando que me telefone
Esperando por um sinal de vida

O meu trem já partiu, cheio de gente
Mas seguiu vazio, porque não tinha você

E cá estou eu, na estação
Esperando que você perdoe meus impropérios
Esperando que se compadeça de mim
Esperando que me ame quando eu menos merecer
Pois é quando mais preciso

E cá estou eu, na estação
E as composições se vão, uma após a outra
Mas eu permaneço imóvel, estático, quase sem vida
Sem você, não importa o destino
Para onde quer que eu vá, não chegarei a nenhum lugar

E cá estou eu, na estação
Parado, esperando por você, como sempre estive
Parece uma sina, uma droga, um vício
Não quero ir
Não há direção, não há sentido
Então, fico aqui, no meio desta noite, como um náufrago no meio do oceano
Esperando que você me resgate, que você me salve deste mar de solidão.

Robson Cassimiro
20/09/2011

quarta-feira, 29 de junho de 2011

E, lá vamos nós!



E, lá vamos nós!
Correndo pela vida, sem saber aonde chegar.

E, lá vamos nós!
Escrevendo certo por linhas tortas.

E, lá vamos nós!
Diminuindo o açúcar, a gordura e o refrigerante.

E, lá vamos nós!
Comprando roupas para o inverno, almoçando com os pais ao domingos, acordando cedo para a labuta.

E, lá vamos nós!
Em trens lotados, com livros lidos pela metade, ouvindo Paul McCartney.

E, lá vamos nós!
Chorando a morte dos amigos, dando socos nas paredes, torcendo para a bola entrar.

E, lá vamos nós!
Querendo ser amados, escrevendo sobre mesas de bares, esperando aquele dia chegar.

E, lá vamos nós!
Sonhando com um mundo melhor, em que nossos filhos sejam livres, sejam eles, sejam felizes.

E, lá vamos nós!
Juntando grana para pagar, procurando ter com quem contar, pedindo pra Deus ajudar.

E, lá vamos nós!
Sentados quando queríamos correr, calando quando queríamos gritar, sorrindo quando queríamos chorar.

E, a vida passa...
E não somos aquilo que queríamos ser, não sentimos o que queríamos sentir, não fazemos o que queríamos fazer.

E, procuramos pelo doutor.
E queremos sempre viver mais.
Mas, viver mais, pra quê?
E, mesmo que vivamos correndo, mesmo que não saibamos viver, queremos viver mais.
Estamos, sempre, à espera do dia em que iremos aprender.
E, antes que a fatalidade nos alcance, queremos vencer.
Porque pior do que morrer é viver sem viver.



Robson Cassimiro

21/06/2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

ÀS MÃES DE REALENGO


E, então, você tem um filho. E você, ainda sem muito jeito, o alimenta, o banha, o veste... E, à noite, olhando ele dormir, você quase não dorme. E, a cada ruído, você se põe em alerta. E, ao perceber ausência de movimentos, encosta seu rosto no dele só para verificar se ele está respirando. E checa se o travesseiro está muito alto ou muito baixo. E coloca a mão sobre ele para ver se ele sente frio ou calor. Então, com o passar do tempo, ele começa a crescer. E, aos poucos, ele passa a identificar a sua voz. Ele chora quando você se afasta e sorri quando você se aproxima. E ele fica uma graça com aqueles macacõezinhos coloridos. E você o exibe, nas ruas, como um troféu. E você gosta quando acham ele lindo. E você tira fotos, muitas fotos, de todos os ângulos. E você faz um pequeno bolo, em família, todos os meses, para comemorar cada mês de vida que ele completa. E ele começa a engatinhar pela casa. E você compra aqueles protetores de tomadas. E tira das estantes aqueles vasinhos fáceis de quebrar. E deixa de aplicar veneno para baratas embaixo dos armários. E ele começa a apontar para as coisas que quer pegar. E começa a balbuciar sílabas quase incompreensíveis. E você torce para que ele aprenda o seu nome primeiro. E quando ele, finalmente, faz isso... você tem vontade de chorar. E, de fato, chora. E você o leva ao médico ao menor sinal de resfriado. E você liga (por nada) para o pediatra, às 2h da manhã. E você o leva para tomar as vacinas. E a agulha que entra nele dói mais em você. E você tem vontade de chorar. E, de fato, chora. E ele vai crescendo. Faz 1, faz 2, faz 3 anos... E o que era só seu, passa a ser de muita gente. E você tem ciúmes dele. E ele vai para a primeira escolinha. E você se emociona com o primeiro dia de aula. E sente vontade de chorar. E, de fato, chora. Este é, depois de muito tempo, o primeiro momento em que você fica sem ele por perto. E você não sabe o que fazer com o seu tempo. E você fica vazia. E não faz nada além de esperar que o relógio marque 17h, para poder ir buscá-lo. E é bom quando aquele portão se abre e ele corre para os seus braços. Depois de certo tempo, ele começa a voltar da escola contando tudo o que fez: o que pintou, o que recortou, o que colou... E, na Páscoa, ele volta da escola com grandes orelhas de papel, bigodes feitos a lápis e a ponta do nariz pintada de vermelho. Nas mãos, uma cenoura de camurça. Que belo coelho você tem! E as pessoas sorriem na rua. No 7 de setembro, ele vem com um chapéu de barquinho e uma espadinha de papel. Na primavera, te traz uma flor de papel machê presa num palito de picolé. Ele diz coisas próprias de crianças e pronuncia palavras errado. Para ele, toda ave é galinha. E aprende que cadela é a fêmea do cão. E você explica o que é fêmea. E ele faz perguntas embaraçosas de responder. E ele vira seu melhor amigo. E vocês assistem, juntos, desenhos na TV. E ele ri do Chaves e do Pica-pau e te conta, como se fossem novidades (para ele são), episódios que você está careca de ver. E vocês comem pipoca na mesma cumbuca. E vocês vão ao shopping de mãos dadas. E ele pede todos os brinquedos que vê. E você tenta ensinar que nem todo dia é dia de se ganhar presentes. Mas tem pena, e acaba comprando um carrinho dos mais baratos. E vocês tomam sorvetes juntos e disputam para ver quem faz a careta mais feia. E um ri do outro. Mas quando ele sorri, mesmo sem ele saber, o seu mundo se ilumina. Quando ele sorri, é como se o mundo parasse. E a sua respiração fica suspensa por esse instante. E a beleza desse sorriso preenche o seu coração. À noite, quando ele, cansado, sucumbe e se entrega ao sono... você aproveita para olhá-lo melhor. E fica tentando imaginar o que provocou aquele hematoma roxo na canela. E verifica que ele está com as unhas grandes, precisando cortar. O observa esticado no sofá, como um gato que se espreguiça, e não acredita no quanto ele já cresceu. E percebe que não viu esse tempo passar. E nota como o tempo passou tão depressa. E agora ele tem amigos, professores, faz natação e joga futebol... Aos poucos, o mundo começa a abraçá-lo. E você se sente impotente, sente medo, sente ciúmes... E tem saudades daquele tempo em que ele era só seu. Mas, lá no fundo, você sempre soube que isso seria assim. E torce para que ele cresça forte e independente, mesmo que isso o afaste um pouco de você. E você o toma em seus braços e o aperta contra o peito. E aproveita para senti-lo bem perto, já que, acordado, ele já não suporta mais a sua melação de tantos beijos e abraços. E, então, ele cresce. Multiplicam-se os amigos, as festas, os ídolos... Faz 10, 11, 12, 13, 14 anos... E vocês se amam. E brigam. E discutem. E se amam, de novo. Ele agora é um “aborrecente”. Lindo, cheio de espinhas. Os hormônios são despejados, sem piedade, sobre ele. É uma fase nova, uma fase de descobertas. O seu garotinho começa a dar lugar ao jovem que se anuncia. E a vida segue seu curso natural. Então, um dia, do nada, faz-se o nada. Faz-se o tudo. Num dia, exatamente igual a todos os dias... Numa quinta-feira, exatamente igual à tantas outras quintas-feiras... Ele toma um gole de café, come meio pãozinho e sai para a escola. Ele não precisa mais de você para levá-lo. Você, ainda com sono, também começa a organizar o seu dia. E o seu dia também seria igual a tantos outros... Não fosse por uma chamada repentina no seu telefone. E você recebe a última notícia, no mundo, que gostaria de receber. E hoje é o dia 07 de abril de 2011. E você mora em Realengo. E um lunático, que não teve, na vida, 1/3 do amor que você deu ao seu filho, resolveu (em sua mente conturbada) que era hora de se vingar do mundo, que era hora de devolver ao mundo tudo aquilo que ele recebeu. Ou que não recebeu. E ele entrou na escola do seu filho, atirando. E o fato está consumado. E seu filho não é mais seu. E as autoridades dizem que o assassino era um doente, era um esquizofrênico, era um solitário, era, também, uma vítima... Mas isso não interessa a você. Isso não ameniza sua dor. Isso não traz seu filho de volta. E as horas de vigília à beira do berço? E as corridas para o médico quando de uma febre alta? E o sorriso dele abrindo o presente de Natal? O que você faz com isso? E você tem vontade de chorar. E, de fato, chora. Só em Deus se pode esperar tamanho consolo. Só no Deus de amor, no Deus imenso, onipresente, onipotente. Mas eu digo a você: Amar não é tempo perdido. Não se perde tempo amando. Você fez tudo direito, mesmo quando errou por falta ou excesso. Amar um filho não é dizer “sim” para tudo. E também não é sempre dizer “não”. Um filho se cria para o mundo. Filhos são presentes de Deus para nós. Cuidamos deles até a nossa própria morte Ou até que eles, antes de nós, criem asas e se vão. Nesse momento, força e paz! Às mães de Realengo, aquele abraço!


Robson Cassimiro 07/04/2011 “Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que a fez tão importante” (Antoine de Saint-Exupéry)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ponto de partida


Ponto de partida


Eu queria zerar
Voltar ao ponto de partida
Começar tudo de novo
Mas não posso

Se pudesse...
Será que seria bom?
Será que se resolveriam meus problemas?
Será que eu diria: “Ah! Agora, sim!”
E começaria a fazer tudo diferente?
Tudo melhor do que já fiz?
Ou cometeria os mesmíssimos erros?

Esse luar de hoje me inspira
E é o mesmo luar que, em Évora, inspirava Florbela Espanca
É o mesmo que, há cem anos, a angustiava por ela não poder traduzir
em palavras a exatidão do que sentia, a perfeição que vinha d´alma.

O tempo passa, e nós também
Não se recupera o tempo perdido
E o que será tempo perdido?
Será a contabilidade dos anos que passamos pagando a hipoteca da casa?
Dos anos que passamos suportando as asperezas de alguém?
Dos anos que passamos reclusos em escritórios frios e sombrios, em meio a números e montanhas de papel, enquanto o dia brilhava lá fora?

Enquanto há vida, há tempo.
Mesmo curto, há tempo.
Então, nos dediquemos com paixão àquilo que amamos.
Amar não é tempo perdido.
Viver não é tempo perdido.


Robson
18/11/2010

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Bernardo e a chuva


A chuva, lá fora, castiga duramente a cidade.
E eu me pergunto: - Como estará você?
O vento sopra, zunindo nos corredores dos edifícios, como se fora alguém querendo meter medo. E mete, de fato, nesse menino que também vive em mim.

De repente, um forte trovão. E eu penso se você também o ouviu.
Ligo para a escola, e a secretária, sempre desarvorada, diz que tudo vai bem.
Com certeza, ela não sabe quem sou eu e nem se lembra qual deles é você.
Mas, ainda assim, diz que tudo vai bem.

Mas eu sei, no fundo do meu coração, do teu temor por tempestades. Alguém (com quem eu ainda quero acertar as contas) te fez crer que uma tormenta é um castigo imposto pelo Pai do Céu. Essa pessoa, em sua enorme ignorância, me deixou a árdua tarefa de desfazer esse nó, esse enorme mal-entendido, que é sempre mais fácil de se criar do que de se consertar.

A chuva, meu amor, é o que há de mais natural. É mais uma bela faceta da natureza.
Às vezes, pode até nos amedontrar, mas também guarda a sua beleza.
Já observaste a chuva repicando num vidro de janela? Pode-se passar horas admirando isso. É tão bonito!
E a chuva se encontrando com as águas do mar ou mesmo com as águas da tua pequena piscina? É um verdadeiro balé de gotas que sobem e descem.

Já sentiu o cheiro de terra molhada quando a chuva começa?
No futuro, quando já for grande, isso vai te remeter à tantas recordações...
Nas tardes frias e chuvosas da minha meninice, minha mãe corria à cozinha e punha-se a fritar seus “bolinhos de chuva”. O cheiro pela casa, então, era delicioso. E eu o associava, sempre, àquelas doces tardes de inverno.
Já crescido, essas lembranças nunca me abandonaram.
Do que será que você vai se lembrar daqui a 30 anos?

Em meio à tempestade, deixo os devaneios e parto ao seu encontro.
Não vejo a hora daquele portão de escola se abrir e você correr para me abraçar.
Quero te mostrar que nem a chuva e nem o vento ou qualquer tormenta (da vida ou do tempo) serão capazes de nos separar.
E, seja como for, da maneira que for, se você precisar, o seu pai sempre estará lá.


Robson Cassimiro
27/11/09