sábado, 28 de junho de 2008

A VOLTA


Hoje trabalhei até às 10:00h da noite.
Não... nenhuma urgência profissional. Não houve essa necessidade.
Fi-lo mais por mim do que pela empresa.
Sentia o coração vazio e necessitava preenchê-lo, mesmo que fosse com trabalho.
Contudo, ao cruzar aquele portão de grades...
senti-me profundamente só, sem destino, sem porto seguro...

Desejei que se fizesse sol e que já fosse, de novo, manhã...
E que eu estivesse chegando, ao invés de estar partindo.
Que distração maravilhosa seria ter mais 10 horas de trabalho...
Mas não devo ser egoísta. Todos merecem descansar, inclusive eu.

Ao tomar o metrô, me misturo àqueles olhares profundos e cansados. Onde sou mais um.
E, entre secretárias, vendedores, estudantes e todo o tipo de gente...
enxergo e posso sentir a mesma sede que eles.
Todos procuram voltar...
Desde a partida, pela manhã, o objetivo e deleite máximo é a volta.

Tenho mesmo a impressão de que a vida é uma eterna volta para casa e para
aqueles que amamos.
Todos nós temos sempre a necessidade de voltar para algum lugar e para alguém.
Necessitamos nos identificar como parte integrante indispensável
ao bom funcionamento de alguma engrenagem... seja ela qual for.
Porque a maior tragédia pessoal é descobrir-se desnecessário.

Na verdade, o que narro emana do medo.
Porque sinto em meu peito, ainda que timidamente, o prenúncio daquelas
terríveis e avassaladoras horas sem o perdão da sua presença.

Não quero voltar, porque não tenho pra onde.
O seu colo dista, agora, centenas de quilômetros de mim.
E essa sentença me é muito dura.

Devem existir noites mais tristes do que essa ao redor do mundo.
Quem sabe, até no íntimo da moça que viaja ao meu lado.
Cada um sabe sobre a sua tristeza e conhece bem a sua dimensão.
A minha, não me é pequena. Mas, também, não se pode dizer tão grande.
O que, para mim, já é o suficiente e o bastante.

A louvável justificativa para a sua falta não ameniza e nem encurta a minha
precipitação nesse abismo silencioso e infindável, que é a sua ausência.

Ao deixar o metrô, observo a cidade que adormece... e permito que
o vento frio desta noite invada as entradas do meu rosto e suavize os traços
que já se pretendem caóticos.

Se nesta noite não encontro motivação para voltar, por não poder voltar para você...
Então, peço que Deus se compadeça... e me faça voltar ao menos por mim.

Robson

terça-feira, 24 de junho de 2008

Estrada da Vida


Esta manhã, com o olhar fixo no sinal vermelho, eu batia, com certa impaciência, as pontas dos dedos contra o volante, e já me preparava para voltar a acelerar.
Porém, quando o sinal abriu... eu não fui, não saí do lugar.
Quando o sinal abriu, lembrei-me de você.
O verde do sinal me indicava que eu podia seguir em frente, mas eu fiquei.
O sinal, por um instante, virou metáfora da vida.
E, naquele momento, me doeu poder ir adiante, sabendo que o sinal fechou pra você.

É claro que eu sei que sempre chega o dia em que o sinal fecha para cada um de nós, mas nós nunca esperamos que ele feche tão rápido, tão repentina e prematuramente.

E o que é a vida, senão um grande ônibus?
Um ônibus que tomamos quando nascemos, viajamos por alguns anos (vendo gente subir e descer), até chegarmos também ao nosso ponto final.
O chato foi ter visto você descer, sabendo que ainda havia muita estrada a percorrer.
O chato é ter que continuar a viver, seguir em frente nesta estrada, sem um amigo como você.

A sua falta se faz presente em tudo: no telefone que não toca, no sorriso que você não dá, naquela hora em que você devia chegar, no afago que você não faz, no café que você não passa...

As nossas lembranças de infância agora são só minhas. E era tão mais divertido dividi-las contigo! E você era tanta coisa pra tanta gente! Era bom filho, bom irmão, bom sobrinho, bom primo, bom neto, bom namorado... e, por fim... meu bom amigo.

O sinal continua verde à minha frente, e eu já começo a ouvir nervosas buzinas.
Pudera... essa minha viagem me levou pra tão longe daqui...
Eu, finalmente, ando com o carro e deixo que os apressados sigam com suas pressas.
Pra onde será que eles correm com tanta avidez? Talvez nem eles saibam.
Muitas vezes somos assim, corremos para o amanhã sem nem mesmo viver o hoje.

Acelero suave agora, enquanto o vento se encarrega de espalhar
uma lágrima que me cai pelo canto do olho.
Não há como ocultar minha amargura.
Mas preciso ir trabalhar... eu ainda continuo nessa estrada.

Quanto ao sinal verde... deixei-o para trás.
Quanto a ti, que ficou... o levarei para sempre em meu coração.

Robson
09/04/07

* Este texto é dedicado ao doce e inesquecível amigo, Marcelo Sabino Fernandes.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Nós gostamos muito de ser diferentes


Nós gostamos muito de ser diferentes
Nós gostamos de ser muito diferentes
Nós muito gostamos de ser diferentes
Nós gostamos de ser diferentes, muito

Nós pintamos os cabelos
Nós fazemos tatuagens
Nós escolhemos nossas roupas
Nós gostamos do que ninguém gosta

Nós escondemos os olhos
Nós andamos carrrancudos
Nós apertamos o passo
Nós subimos o vidro

Tudo para ser diferentes

Mas quando há dor
Quando não há amor
Quando estamos longe
Quando estamos sós

Quando não há paz
Quando não há saúde
Quando a terra treme
Quando a morte vem

Aí, então, já não somos diferentes

Na nudez do corpo, não há diferentes
Nas chagas abertas pela guerra, não há diferentes
Quando o céu desaba, não há diferentes
Quando o chão se rasga, não há diferentes

Quando há muito fogo ou muita água...
não há diferentes.
Quando tudo acaba... não há diferentes.
No último suspiro, na maca, não há diferentes.

Só na mais completa escuridão se vê a semelhança
Mas nós não vemos
Tolos, ainda nos achamos diferentes
Somos todos iguais até em nos achar diferentes.


Robson Cassimiro
09/06/08