quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Roda da Fortuna


Domingo desses, fui impactado por uma pergunta vinda de uma pessoa da família (que, claro, vou preservar a identidade):

- Quer ganhar dinheiro fácil?

Achei esquisito por dois motivos:
Primeiro, acho mais fácil ver um saci do que ganhar dinheiro com alguém da família.
Segundo porque já passo dos 30 anos e ainda não vi aquele que ganhasse dinheiro com facilidade (digo honestamente).

Voltando à pergunta, respondi:

- Como é que é isso?

A pessoa vem de novo:

- É muito fácil! É uma roda onde cada um entra com uma cota e, no fim de um período, o participante resgata uma quantia muito maior do que aquela que investiu.

Achei estranho, retruquei:

- Mas isso é legal?
- Legal pra caramba! Eu entrei com R$250,00 e vou resgatar R$2.000,00!!!

Em sua empolgação, meu interlocutor não percebeu que o meu “legal” se referia à legalidade diante da lei. O que é bem diferente do “legal” de bacana, de maneiro...

A conversa avançou mais um pouco e eu, polidamente, disse:

- Não, obrigado.

A pessoa, me tirando por burro, insistiu:

- Você não quer entrar porque não entendeu direito! É um negócio inteligente: você entra com uma grana, convida outras duas pessoas para serem seus “apoios” (que também entram com grana), e cada um desses apoios também deve arrumar mais duas pessoas...

Eu nem quis ouvir o resto. Vi logo que aquilo muito se assemelhava a uma pirâmide. E, até que me provem o contrário, só as do Egito não desmoronam. Nunca gostei de pirâmides, correntes, macumba na encruzilhada ou budas de cara para a parede. Não haveria de gostar dessa dita “Roda da Fortuna”.

Com a minha negativa, senti que o domingo em família ficou meio nublado. Todo mundo se achando muito inteligente por estar na “rodinha”, e eu figurando de sovina e estraga prazeres.
Contudo, como tudo na vida passa, aquele domingo passou, dias se passaram, semanas transcorreram.
Então, ontem, me chega de súbito a notícia de uma confusão na família. Coisa feia, maior baixaria, com direito a palavrão, dedo na cara e quase briga de mão.
O motivo? Alguém aí arrisca?
Pois é, a rodinha da fortuna emperrou. Teve gente que recebeu e sorriu. Teve gente que não recebeu ( e nem tem previsão disso) e perdeu, além da grana, a esportiva.
O burro aqui riu por dentro, mas fez cara séria, fingindo considerar gravemente a desventura dos inteligentes.
Agora, malandro, tem até inteligente sem se falar na minha família. Mas o burro, esse continua a falar suas asneiras para quem quiser ouvir.

E, pra você, que leu esse texto até aqui, o burro vai dar dois conselhos:

1 – Não existe esse papo de dinheiro fácil. Só é limpo aquele que provém de trabalho honesto. Todo mundo que eu conheço que tem dinheiro, foi porque trabalhou/trabalha muito pra isso... ou os pais trabalharam no passado, deixando herança.
Então, trabalhe ao invés de apostar em fórmulas mágicas ou equações mirabolantes!
Se quiser arriscar a sorte, vá lá, faça uma fezinha na loto, que também tem marmelada, mas ao menos é legal.

2 – Nunca misture dinheiro e família! É a mesmíssima coisa de se jogar uma granada numa fossa sanitária. Quando o artefato explode...
Bem, acho que vocês já me entenderam.
Não pensem que eu não gosto da minha família. Eu gosto... e gosto muito. Mas gosto mais ainda no retrato, com todo mundo paradinho.


Desejo a vocês muita fortuna (com trabalho) e união familiar (sem dinheiro)!

Robson Cassimiro
22/10/08